Abertas as inscrições para o curso ‘Brechas no Fascínio, Fragmentos que Despertam’
Ementa: As obras de arte podem ser lidas sob diferentes abordagens teóricas. Nesse curso, focaremos na perspectiva da psicanálise, sobretudo a partir das contribuições dos psicanalistas Sigmund Freud e Jacques Lacan. A partir de textos centrais nas obras desses autores, apresentaremos a perspectiva epistemológica da psicanálise e destacaremos eixos diferenciais de sua abordagem sobre a cultura e sobre a arte. Os artistas são considerados, por Freud, antenas do seu tempo, estando um passo à frente, colocando em cena os vapores das novas ideias. A partir de uma estética negativa, a psicanálise, abre brechas no fascínio, não supõe a plenitude e não visa ocupar-se prioritariamente sobre o belo. Voltada ao estranho, sublinha as aberturas, as incoerências e os múltiplos sentidos que habitam as obras. Nesse movimento de interrogação, análise das contingências e dos significantes, pauta suas interpretações que buscam pontuar perspectivas singulares e culturais, sem com isso tamponar a obra com seu saber.
A obra do filósofo e historiador Georges Didi-Huberman também será destacada. Suas produções auxiliam-nos a refletir sobre as contribuições do saber psicanalítico e benjaminiano, na análise das obras de arte. O estranhamento do olhar sustenta uma estética negativa e os enlaces entre mal-estar, sujeito e desejo. As relações entre sintoma, imagem e cultura instigam-nos a uma postura crítica, que rompe com um pensamento único, pois é através dos traços da cultura que se pode acessar as diferenças e singularidade que coabitam uma mesma época e que tendem a ficar de fora da história hegemônica. Nessa perspectiva, a obra de arte revela-se como fragmento da cultura, sintoma de um tempo, objeto que articula singularidade e laço social.
Aula 1: Introdução às relações entre Arte, Psicanálise e Política
Aborda o conceito de obra de arte, processo criativo e contingências sócio-histórico-culturais, destacando a dimensão do risco da criação. Revisita textos fundamentais da psicanálise e o modo como Freud debruçava-se sobre as obras de arte. Analisa, assim, a obra de Leonardo Da Vinci: “A virgem e o menino com Sant’Ana” (1508-1513) e o valor do infantil, do inacabamento e da finitude que evoca. Reflete que a psicanálise está em posição de escutar e atribuir palavras decisivas para as questões que dizem respeito à vida imaginária da humanidade.
Aula 2: Estética Negativa
Articula a questão da estética para além do belo, ocupando-se das dimensões que atravessam a criação, tais como a efemeridade do tempo e os horrores provocados pela civilização. Destaca-se as obras dos artistas: Renné Magrite, “Os Amantes”, 1928; “Par de botas”, 1934 e Mário Ayguavives “Otro Cuerpo”, 1997, que instigam a refletir sobre a fantasia, o estranho e o duplo, elementos fundamentais nessa estética negativa.
Aula 3: O Olhar e as fraturas no fascínio
Analisa a concepção de sujeito para a psicanálise e sua ética. Destaca a dimensão pulsional do olhar, enquanto repetição e diferença, promovendo fraturas no fascínio que supõe a completude. Destaca-se as obras: “Os Embaixadores”, 1533, de Holbein; “Die”, 1962, de Tony Smith e “Morte eu sou teu”, 1997, de Karin Lambrecht, que permitem refletir sobre as distorções da forma e sobre a função da morte em suas relações com o olhar e com o fascínio.
Aula 4: Imagem & Tempo: fragmentos que restam
Diante da imagem, estamos diante do tempo. Análise do tempo articulado às obras e da função da imagem. Através do olhar e do desejo utópico, algo resta, se transmite e se compartilha, mesmo ante ao mal entendido. Através das obras: “A virgem das sombras”, 1440, de Fra Angelico; “1965/1 – ∞ “, de Roman Opalka e “Silhuetas séries”, 1979, de Ana Mendieta, realiza uma leitura anacrônica das obras, sublinhando o valor da descontinuidade, da transitoriedade, do luto e das políticas da vida.